A fermentação é uma das etapas mais cruciais no processo de produção do café, determinando o desenvolvimento de características sensoriais únicas que podem elevar a qualidade da bebida. Durante esse processo, os açúcares e mucilagens presentes nos grãos são decompostos por microrganismos, o que afeta diretamente o sabor, o aroma e o corpo do café. Pequenas variações no controle desse processo podem resultar em perfis completamente diferentes, tornando a fermentação uma fase sensível e decisiva para os produtores.
Nas regiões tropicais, onde o café é amplamente cultivado, o clima desempenha um papel fundamental em cada fase da produção, especialmente na fermentação. A combinação de temperaturas elevadas, alta umidade e chuvas sazonais cria um ambiente único, que pode acelerar ou dificultar o controle da fermentação. O clima nessas áreas não apenas influencia a saúde dos cafeeiros, mas também afeta diretamente a forma como os microrganismos interagem com os grãos durante a fermentação.
A questão que se coloca é: como o clima específico das regiões tropicais impacta o processo de fermentação do café? A resposta envolve a compreensão de como as variações climáticas moldam a atividade microbiana e o tempo necessário para que a fermentação ocorra adequadamente. Este artigo explora a complexa relação entre o clima tropical e a fermentação, destacando os desafios e oportunidades que essas condições apresentam para a produção de cafés de alta qualidade.
O que é a Fermentação do Café?
A fermentação do café é uma etapa essencial no processamento dos grãos após a colheita. Esse processo ocorre quando a mucilagem, uma camada açucarada que envolve os grãos, começa a ser decomposta por microrganismos como leveduras e bactérias. Durante a fermentação, esses microrganismos convertem os açúcares presentes na mucilagem em ácidos, álcool e outros compostos, modificando a estrutura química dos grãos.
A fermentação pode ser realizada de forma controlada em tanques ou mesmo em ambiente natural, dependendo do método de processamento utilizado, seja ele o via úmida (lavado) ou seco (natural). A duração e as condições em que ocorre essa etapa – como temperatura, umidade e presença de oxigênio – influenciam diretamente o desenvolvimento dos compostos que determinarão o perfil sensorial do café.
A importância da fermentação para o sabor e qualidade do café é imensa. Esse processo define as nuances aromáticas e gustativas da bebida, podendo potencializar desde notas frutadas e florais até sabores mais complexos, como chocolate e especiarias. Quando realizada corretamente, a fermentação enriquece o café, conferindo equilíbrio e suavidade. No entanto, se for mal gerenciada, pode resultar em defeitos no sabor, como amargor excessivo, acidez desbalanceada ou até a presença de sabores indesejados como mofo. Portanto, a fermentação é uma arte que exige atenção cuidadosa para garantir que o café entregue seu máximo potencial em termos de qualidade e complexidade.
Impactos do Clima no Processo de Fermentação
O clima tem um papel determinante no processo de fermentação do café, afetando diretamente a forma como os microrganismos se comportam e influenciam o desenvolvimento dos grãos. Nas regiões tropicais, onde o cultivo de café é predominante, variáveis climáticas como temperatura, umidade, precipitação e altitude criam desafios e oportunidades para o controle do processo de fermentação.
Temperatura: Como a variação de temperatura (dias quentes vs. noites frias) afeta a atividade microbiana
A temperatura é um fator crucial no ritmo e na qualidade da fermentação. Dias quentes podem acelerar o metabolismo dos microrganismos responsáveis pela fermentação, fazendo com que o processo ocorra mais rapidamente. Isso pode ser vantajoso, desde que o controle seja rigoroso para evitar uma fermentação excessiva que comprometa o sabor do café. Por outro lado, noites frias desaceleram a atividade microbiana, permitindo uma fermentação mais lenta e controlada. Essa variação entre dias quentes e noites frias, comum em algumas regiões tropicais de maior altitude, pode ajudar a equilibrar o processo, gerando perfis de sabor mais complexos e refinados.
Umidade: Efeitos da umidade alta e baixa sobre a fermentação e o tempo necessário
A umidade do ambiente também tem um impacto significativo na fermentação do café. Em regiões tropicais com alta umidade, o processo de fermentação tende a ocorrer de forma mais rápida, já que o ambiente úmido favorece a proliferação de microrganismos. No entanto, se não for bem controlada, a alta umidade pode resultar em um crescimento descontrolado de bactérias indesejadas, gerando defeitos no café. Por outro lado, em áreas com baixa umidade, o processo é mais lento, o que pode permitir um controle mais preciso, mas também exige um monitoramento mais cuidadoso para garantir que a fermentação ocorra de maneira adequada dentro do tempo previsto.
Precipitação: Impactos da chuva no cultivo e como ela pode interferir no controle do processo
A precipitação, comum nas regiões tropicais, influencia tanto o cultivo do café quanto o processo de fermentação. Durante a colheita e a secagem dos grãos, chuvas excessivas podem comprometer a qualidade do café, dificultando o controle da fermentação e aumentando o risco de desenvolvimento de fungos ou outros patógenos. A presença de chuvas inesperadas durante a fermentação pode interferir na consistência do processo, já que a água extra pode diluir os compostos fermentados, alterando o equilíbrio necessário para uma fermentação adequada.
Altitude: A relação entre altitude e as condições climáticas específicas, influenciando a fermentação
A altitude está diretamente ligada a condições climáticas específicas que influenciam a fermentação do café. Em altitudes mais elevadas, as temperaturas tendem a ser mais baixas e as variações térmicas entre o dia e a noite mais acentuadas, o que favorece uma fermentação mais lenta e controlada. Esse ambiente proporciona um equilíbrio ideal para que os compostos aromáticos e gustativos se desenvolvam de maneira mais refinada, resultando em cafés de alta qualidade, com maior acidez e complexidade de sabor. Em altitudes mais baixas, onde as temperaturas são mais altas e constantes, o processo de fermentação é mais rápido, exigindo um cuidado extra para evitar fermentações descontroladas que podem prejudicar o perfil sensorial do café.
Compreender como esses fatores climáticos afetam o processo de fermentação é essencial para que os produtores de café em regiões tropicais possam ajustar suas práticas e garantir a produção de cafés com perfis sensoriais excepcionais.
Climas Tropicais e Seus Desafios
As regiões tropicais, onde o café é amplamente cultivado, possuem padrões climáticos que tornam o cultivo e o processamento dos grãos únicos e desafiadores. Caracterizadas por temperaturas elevadas ao longo do ano, alta umidade e chuvas intensas, essas áreas criam condições favoráveis ao crescimento do café, mas também impõem obstáculos significativos, especialmente no controle da fermentação.
Descrição dos padrões climáticos típicos em regiões tropicais
Os climas tropicais são geralmente marcados por temperaturas médias que variam entre 20°C e 30°C, com pouca variação sazonal. Essas regiões apresentam duas estações principais: a estação chuvosa, com precipitação intensa e frequente, e a estação seca, mais curta, mas com altos índices de umidade relativa no ar. A alta umidade e o calor criam um ambiente ideal para a proliferação de microrganismos, fundamentais para a fermentação, mas também exigem cuidados redobrados para evitar o surgimento de patógenos indesejados.
Como esses padrões específicos tornam o controle da fermentação mais desafiador
A combinação de calor constante e alta umidade nas regiões tropicais pode acelerar o processo de fermentação, dificultando o controle do tempo ideal para atingir a qualidade desejada no café. Com microrganismos se proliferando mais rapidamente nesse ambiente, o risco de fermentação excessiva ou desbalanceada aumenta, o que pode levar a sabores indesejados, como acidez descontrolada ou amargor. Além disso, as chuvas frequentes durante a colheita e secagem dos grãos podem comprometer o controle de umidade, resultando em fermentação irregular ou em crescimento de fungos, como a broca e o oídio, que afetam negativamente a qualidade do café.
A dificuldade de manter uma fermentação uniforme em climas tropicais exige que os produtores sejam extremamente cuidadosos no monitoramento do processo, ajustando fatores como o tempo de fermentação e os métodos de secagem para garantir que o café não perca suas características de sabor.
Exemplo de regiões tropicais produtoras de café e como o clima local influencia o processo
Exemplos de regiões tropicais produtoras de café incluem países como Brasil, Colômbia, Etiópia e Vietnã. Cada uma dessas regiões enfrenta desafios climáticos distintos que influenciam diretamente o processo de fermentação.
No Brasil, maior produtor de café do mundo, o clima tropical varia bastante entre as regiões. Em áreas de menor altitude e temperaturas mais altas, como o cerrado mineiro, o controle da fermentação requer cuidados adicionais para evitar que o calor acelere demais o processo. Já em áreas de maior altitude, como o sul de Minas Gerais, onde as temperaturas noturnas são mais baixas, o processo de fermentação pode ser mais controlado, resultando em perfis de sabor mais equilibrados.
Na Colômbia, famosa pela produção de cafés de alta qualidade, o clima tropical de montanha, com altitudes elevadas e temperaturas moderadas, oferece condições ideais para um controle mais preciso da fermentação. Aqui, as temperaturas amenas permitem uma fermentação mais lenta, o que geralmente resulta em cafés com acidez brilhante e aromas complexos.
Já no Vietnã, onde o clima tropical é mais quente e úmido durante a maior parte do ano, a fermentação tende a ser mais rápida e, por isso, o café robusta produzido no país é mais propenso a sabores intensos e amargos. Esse desafio climático exige técnicas específicas de manejo para controlar a fermentação de forma mais precisa.
Esses exemplos mostram como os diferentes microclimas tropicais exigem adaptações nas técnicas de fermentação para garantir que o café produzido mantenha suas características sensoriais de alta qualidade, apesar dos desafios impostos pelo ambiente.
Microorganismos e o Clima
Os microrganismos são os principais agentes responsáveis pela fermentação do café, e seu comportamento é diretamente influenciado pelas condições climáticas, especialmente nas regiões tropicais. Leveduras, bactérias e outros microrganismos decompõem os açúcares presentes na mucilagem dos grãos, transformando-os em compostos que afetam o sabor, o aroma e a acidez do café. No entanto, a proliferação e a atividade desses microrganismos são altamente sensíveis a variações de temperatura, umidade e outros fatores climáticos, o que torna o controle do processo de fermentação um verdadeiro desafio em diferentes ambientes.
Explicação de como as condições climáticas afetam a proliferação e atividade dos microrganismos responsáveis pela fermentação
Em climas quentes e úmidos, como os encontrados em grande parte das regiões tropicais, a proliferação de microrganismos ocorre de maneira acelerada. Isso se deve ao fato de que temperaturas mais altas estimulam o crescimento de leveduras e bactérias, aumentando sua atividade metabólica. Essa condição climática pode fazer com que a fermentação ocorra mais rapidamente, o que, por um lado, pode resultar em sabores intensos e ácidos. Por outro lado, a fermentação acelerada também pode dificultar o controle do processo, aumentando o risco de uma fermentação excessiva, que pode gerar sabores indesejados ou defeitos sensoriais no café.
Já em climas mais frescos e secos, a atividade microbiana tende a ser mais lenta, proporcionando um processo de fermentação mais controlado e gradual. Isso permite que o café desenvolva sabores mais complexos e equilibrados, pois a decomposição dos açúcares pelos microrganismos ocorre de maneira mais estável. No entanto, a fermentação em climas mais frios pode exigir mais tempo e um controle rigoroso para garantir que o processo ocorra de forma eficaz e que os grãos não sejam expostos a riscos de contaminação ou deterioração.
Diferença entre climas úmidos e secos na microbiologia do processo de fermentação
Nos climas úmidos, como os encontrados em muitas áreas tropicais, a fermentação acontece de forma rápida e intensa. A umidade elevada cria um ambiente favorável para o crescimento de uma diversidade de microrganismos, tanto os benéficos quanto os prejudiciais. Embora isso possa acelerar a fermentação, também aumenta o risco de contaminação por fungos e bactérias indesejadas, o que pode resultar em sabores desagradáveis ou em defeitos no café. Por isso, em ambientes úmidos, os produtores devem monitorar o processo com atenção redobrada, garantindo que a fermentação seja interrompida no momento certo.
Em climas secos, o processo é mais lento, e a proliferação microbiana é menos intensa. Isso pode ser vantajoso em termos de controle, permitindo que o produtor tenha mais tempo para ajustar as variáveis e evitar erros. Contudo, em regiões muito secas, a falta de umidade pode dificultar a ativação de alguns microrganismos essenciais para a fermentação, exigindo que os produtores busquem maneiras de manter níveis adequados de umidade para garantir que o processo ocorra de maneira eficaz.
Dessa forma, o clima, tanto em termos de temperatura quanto de umidade, desempenha um papel crítico na proliferação e atividade dos microrganismos responsáveis pela fermentação. Compreender essas diferenças e como o clima afeta a microbiologia do processo é fundamental para os produtores de café que buscam alcançar perfis de sabor consistentes e de alta qualidade.
Boas Práticas para Gerenciar o Processo de Fermentação em Climas Tropicais
Gerenciar o processo de fermentação do café em climas tropicais pode ser um desafio, dado o impacto direto que as condições de calor, umidade e precipitação têm sobre o comportamento dos microrganismos e o tempo de fermentação. No entanto, produtores em todo o mundo têm desenvolvido e aprimorado técnicas específicas para manter o controle do processo, garantindo que o café mantenha suas qualidades sensoriais, apesar das adversidades climáticas.
Técnicas usadas por produtores de café em regiões tropicais para controlar melhor a fermentação
Uma das principais estratégias adotadas por produtores de café em regiões tropicais é o controle rigoroso do tempo de fermentação. Em climas mais quentes, onde a fermentação pode ocorrer de maneira mais acelerada, os produtores monitoram o processo com maior frequência, ajustando o tempo de exposição dos grãos para evitar fermentações excessivas. Em algumas regiões, como na Colômbia e no Brasil, os produtores fazem experimentos com fermentações mais curtas ou em várias etapas, interrompendo o processo para garantir que os grãos não ultrapassem o ponto ideal de fermentação.
Outra técnica amplamente utilizada é a fermentação em tanques fechados ou controlados, onde os produtores podem ajustar fatores como temperatura e umidade. O uso de tanques de aço inoxidável ou de plástico com tampas permite criar um ambiente mais estável para a fermentação, independentemente das variações climáticas externas. Isso é especialmente útil durante a estação chuvosa ou em áreas onde as temperaturas diurnas são muito elevadas.
Além disso, muitos produtores utilizam a fermentação anaeróbica, um método em que os grãos são fermentados sem a presença de oxigênio. Essa técnica ajuda a desacelerar a atividade microbiana, permitindo um controle mais preciso do processo. Ao privar os microrganismos de oxigênio, o ritmo da fermentação diminui, o que ajuda a criar sabores mais refinados e balanceados, mesmo em climas tropicais adversos.
Ferramentas e métodos inovadores para mitigar os desafios climáticos
Para lidar com os desafios climáticos típicos das regiões tropicais, muitos produtores estão adotando tecnologias inovadoras. Uma dessas ferramentas é o uso de sensores de temperatura e umidade. Esses dispositivos são colocados nos tanques de fermentação para monitorar continuamente as condições do processo. Com dados em tempo real, os produtores podem ajustar o ambiente de fermentação de forma mais precisa, aumentando ou diminuindo a ventilação ou o tempo de fermentação conforme necessário.
Outra inovação importante é o uso de tanques de fermentação com controle de temperatura, que permite aos produtores manter o processo de fermentação em uma faixa de temperatura ideal, mesmo em dias de calor extremo. Esses tanques utilizam resfriamento ou aquecimento controlado para garantir que a fermentação ocorra em um ritmo consistente, independente das flutuações climáticas.
Além disso, muitos produtores estão experimentando com fermentação espontânea controlada, na qual os grãos são deixados para fermentar com microrganismos naturalmente presentes no ambiente local. Ao estudar e selecionar os microrganismos mais adequados, os produtores podem estimular uma fermentação mais previsível, criando perfis de sabor únicos que refletem o terroir local. Esse método tem se mostrado especialmente eficaz em regiões tropicais com grande biodiversidade microbiana.
Por fim, práticas de secagem combinada, que utilizam tanto métodos tradicionais de secagem ao sol quanto estufas controladas, têm sido cada vez mais populares. Essa técnica ajuda a regular o nível de umidade dos grãos após a fermentação, prevenindo que o clima úmido cause problemas como o mofo ou a fermentação indesejada durante o processo de secagem.
Essas técnicas e inovações estão ajudando os produtores de café em climas tropicais a superar os desafios impostos pelo ambiente, garantindo que a fermentação ocorra de maneira controlada e eficiente, resultando em cafés de alta qualidade e perfis de sabor excepcionais.
Impacto Final no Perfil Sensorial do Café
O clima e o processo de fermentação são elementos cruciais na definição do perfil sensorial do café. Juntos, eles moldam o sabor, aroma e corpo da bebida final, influenciando diretamente a complexidade e a qualidade do café produzido em regiões tropicais. Ao controlar com precisão esses fatores, os produtores podem destacar características únicas que diferenciam um café de outro, criando bebidas que variam desde perfis suaves e equilibrados até notas mais ousadas e intensas.
Como o clima e a fermentação juntos moldam o sabor, aroma e corpo do café final
A fermentação é responsável por transformar os compostos presentes na mucilagem dos grãos de café, gerando ácidos, álcoois e outros elementos que influenciam o sabor e o aroma da bebida. No entanto, o clima tropical onde o café é cultivado exerce uma influência direta sobre esse processo, alterando a intensidade e o desenvolvimento dessas características sensoriais.
Em climas mais quentes e úmidos, a fermentação tende a ser mais rápida e intensa, o que pode resultar em cafés com sabores mais vibrantes e acidez acentuada. As temperaturas elevadas estimulam a proliferação de microrganismos, gerando notas de frutas tropicais, cítricos ou vinhosos, e intensificando a percepção de doçura. Ao mesmo tempo, se o processo não for bem controlado, essas condições podem levar a sabores indesejados, como fermentação excessiva, acidez desbalanceada ou notas amargas.
Por outro lado, em climas mais frescos, muitas vezes em regiões de maior altitude, a fermentação ocorre de forma mais lenta e controlada. Isso permite que os sabores se desenvolvam de maneira mais equilibrada, gerando cafés com corpo mais pronunciado, acidez refinada e aromas complexos, que podem incluir notas florais, de chocolate e especiarias. A influência do clima mais ameno proporciona um perfil sensorial mais delicado, onde o controle do processo permite maior precisão na criação de nuances e camadas de sabor.
Além do sabor e aroma, o corpo do café – a sensação de peso e textura na boca – também é impactado pelo clima e pela fermentação. Cafés fermentados em ambientes mais quentes podem ter um corpo mais leve, enquanto aqueles processados em climas frescos ou com fermentações mais lentas tendem a apresentar uma textura mais densa e rica.
Exemplos de sabores típicos de cafés fermentados em diferentes condições climáticas tropicais
- Brasil (Clima Quente e Sazonal): Nas regiões de clima mais quente do Brasil, onde o calor acelera a fermentação, é comum encontrar cafés com notas de frutas maduras, como manga, abacaxi e banana, além de uma doçura acentuada. A acidez é geralmente mais baixa, e o corpo tende a ser leve a médio, com um sabor de chocolate ao fundo, especialmente em grãos processados naturalmente.
- Colômbia (Clima Tropical de Montanha): Com altitudes elevadas e variações de temperatura entre o dia e a noite, os cafés da Colômbia costumam ter uma fermentação mais lenta. Isso gera perfis sensoriais equilibrados, com uma acidez brilhante e notas de frutas vermelhas, como cereja e framboesa, além de um corpo médio e textura cremosa. Aromas florais e de caramelo são comuns em cafés colombianos, especialmente os processados de forma lavada.
- Etiópia (Clima de Altitude e Chuvas Sazonais): Conhecida como o berço do café, a Etiópia oferece cafés com perfis muito distintos, dependendo da região e das condições climáticas. Em áreas de alta altitude, a fermentação mais controlada gera cafés florais com notas de jasmim, chá preto e frutas cítricas, como limão e bergamota. Já em regiões mais baixas e quentes, os cafés podem ter um corpo mais leve e aromas mais intensos de frutas tropicais.
- Vietnã (Clima Quente e Úmido): No Vietnã, onde o calor e a umidade predominam, a fermentação ocorre rapidamente, o que resulta em cafés robustas mais densos e de sabor intenso. O perfil sensorial desses cafés é tipicamente amargo, com notas de cacau, nozes e especiarias. Embora o corpo seja pesado, o processo de fermentação rápido tende a gerar menos acidez, criando uma bebida forte e encorpada.
Esses exemplos demonstram como o clima e a fermentação, quando bem gerenciados, podem gerar uma ampla gama de perfis sensoriais, fazendo com que o café seja uma das bebidas mais ricas e diversificadas do mundo. Cada variação climática, aliada ao controle da fermentação, é capaz de criar experiências únicas para os apreciadores de café.
Estudos de Caso e Exemplos
A prática de controlar a fermentação do café em regiões tropicais é tanto uma arte quanto uma ciência, e muitos produtores vêm se destacando ao adotar métodos inovadores e rigorosos para otimizar esse processo. A seguir, analisaremos um exemplo de sucesso e compararemos diferentes abordagens de fermentação em várias regiões tropicais.
Exemplo de uma fazenda de café tropical que se destaca no controle da fermentação
A Fazenda Daterra, localizada no Cerrado Mineiro, Brasil, é um exemplo notável de como o controle preciso da fermentação pode resultar em cafés de altíssima qualidade. A fazenda, pioneira em práticas sustentáveis, utiliza um método meticuloso para monitorar o processo de fermentação, combinando tecnologia com técnicas tradicionais.
No Cerrado, as temperaturas podem ser bastante altas durante o dia, com noites mais frescas, o que representa um desafio para manter o processo de fermentação controlado. A Daterra desenvolveu um sistema que usa sensores para medir em tempo real a temperatura e a umidade dos tanques de fermentação. Eles ajustam constantemente esses parâmetros para garantir uma fermentação equilibrada, permitindo que o café mantenha suas características sensoriais naturais.
Além disso, a fazenda experimenta com fermentações prolongadas e anaeróbicas, que permitem aos grãos desenvolver sabores complexos, como notas de frutas tropicais, baunilha e especiarias, sem perder o equilíbrio entre doçura e acidez. Essa abordagem trouxe à Daterra uma reputação internacional de excelência, com seus cafés frequentemente recebendo prêmios em concursos de qualidade.
Comparação de diferentes abordagens em várias regiões tropicais
- Etiópia: Fermentação Tradicional e Natural
Na Etiópia, uma das maiores produtoras de cafés especiais, o método tradicional de fermentação é mantido ao ar livre, com o uso de tanques abertos onde os grãos são deixados em contato com a água e o ar. Em regiões de alta altitude, como Yirgacheffe, as temperaturas mais amenas permitem uma fermentação mais lenta e natural, resultando em cafés com perfis florais e cítricos. A simplicidade do processo é balanceada pela precisão no tempo de fermentação e na secagem ao sol, o que garante um controle preciso da qualidade dos grãos. - Colômbia: Fermentação Lavada Controlada
Na Colômbia, o método predominante é a fermentação lavada, onde os grãos passam por uma lavagem antes da fermentação para remover a mucilagem. Esse método é amplamente utilizado em áreas de clima tropical de montanha, onde a altitude proporciona um clima mais ameno e constante. Produtores colombianos se destacam pelo controle do tempo de fermentação e pela utilização de tanques fechados, que permitem um processo mais limpo e preciso, resultando em cafés com alta acidez, corpo médio e notas frutadas e florais. - Vietnã: Fermentação Rápida em Climas Quentes e Úmidos
O Vietnã, conhecido por sua produção de café robusta, utiliza métodos de fermentação rápidos devido às altas temperaturas e à umidade elevada. O calor constante acelera a atividade microbiana, o que pode criar dificuldades para o controle do processo. No entanto, muitos produtores vietnamitas adotam métodos anaeróbicos e técnicas de secagem rápida para prevenir fermentações excessivas, garantindo que o café robusta retenha seu sabor intenso e encorpado, com notas de especiarias, cacau e amargor característico. - Costa Rica: Fermentação Experimental e Microlotes
Em contraste, na Costa Rica, os produtores estão cada vez mais experimentando com microprocessamentos, como a fermentação natural e o uso de tanques selados para microlotes. Em algumas fazendas, são utilizados microrganismos selecionados para controlar o tipo de fermentação, resultando em cafés com sabores específicos, como frutas vermelhas, chocolate e mel. A combinação de clima tropical ameno e a abordagem experimental tem gerado cafés de alto valor agregado e perfis sensoriais únicos.
Esses exemplos mostram como diferentes abordagens de fermentação em climas tropicais podem gerar uma ampla variedade de perfis sensoriais e soluções inovadoras para superar os desafios climáticos. Enquanto fazendas como Daterra combinam tecnologia e tradição, outras regiões adotam práticas mais naturais ou experimentais, destacando a diversidade e a riqueza dos cafés produzidos em áreas tropicais.